sábado, julho 25, 2009

Leia abaixo trechos da entrevista concedida ao jornal Atribuna por Francisco Nepomuceno Carioca, o 'bateu, levou' do governo do Acre.

A TRIBUNA- Arrogante, bicho-papão do PT, essas são algumas das imagens que traçam a seu respeito os políticos da oposição, e, principalmente, os sindicalistas. Você justifica a fama?

CARIOCA- Não, de maneira alguma. Na mesa de negociação com os sindicatos, com os políticos, eu defendo opiniões. Pontos do governo. Também ouço. Não sou arrogante, nem esse bicho-papão que dizem que sou. Pelo contrário, sou uma pessoa fácil de ser convencida, só que o outro lado tem de apresentar dados que me convençam.

A TRIBUNA- Na última negociação com funcionários da saúde e da educação choveram queixas de que você só ouviu e negociou com a parte dos sindicatos do lado do governo. Que foi uma negociação capenga. Até que ponto isso é verdade?
CARIOCA- Nós negociamos com os grandes sindicatos que representam a maioria da categoria. O problema é que na educação há dois sindicatos, o Sinteac e o Sinplac. Isso é culpa do PT e do PC do B de haver essas divisões sindicais. Na saúde, existem quatro sindicatos com pautas diferentes. Optamos por negociar com o Sintesac, o sindicatão da área. Tinha que ser coerente de conversar com quem tem mais representatividade. Não significa que não vamos dialogar com os outros. Negociamos dentro do limite do Estado. Com a crise econômica, o Acre perdeu R$ 67 milhões em arrecadação, isso pesa negativamente na hora de falar de salário. Fizemos tudo o que está ao alcance do governo, pois este é o último ano de negociação salarial, 2010 é eleição e a lei proíbe. Avançamos para um salário mínimo de R$ 525 de forma imediata, valor que em julho de 2010 chegará a R$ 560. Nem o novo salário-mínimo a ser fixado pelo Lula chegará a esse patamar.

A TRIBUNA- Há muitas reclamações na PM, por exemplo, que o reajuste dos oficiais foi maior que os demais níveis da corporação, foi uma retaliação pelo movimento grevista?
CARIOCA- Se fosse retaliação, não teríamos negociado. O problema é que o salário do soldado da PM do Acre fica entre o quinto e o sétimo melhor do Brasil. Já o dos oficiais fica entre o décimo e o décimo quarto. Foi buscada uma maior aproximação entre esses índices. Com a negociação, um soldado vai ganhar R$ 1.864 mil a partir de dezembro deste ano. Terá ainda um prêmio de R$1,5 mil em duas vezes: dezembro deste ano e julho de 2010. Será criado um banco de horas para que, quando houver convocação de um militar de folga para trabalhar num evento, receba pelo trabalho extra, algo que não ocorria. Era preciso 10 anos para um soldado chegar a cabo, mas, com o acordo, o teto foi reduzido a 6 anos. O governo atendeu às principais bandeiras da categoria.

A TRIBUNA - Estamos vivendo uma crise de violência, não há como esconder, por que a polícia, com esses avanços não está na rua?
CARIOCA- A violência de fato aumentou. Vamos ter que botar polícia na rua. Nos grandes centros, numa rua, numa esquina, sempre se nota um policial como referência, está faltando isso no Acre. Ficou acertado que nos pontos de saturação, onde acontecem mais casos de assaltos, furtos e roubo, será colocado mais policiamento ostensivo. O banco de horas pode ajudar a remanejar mais de 500 policiais de folga para a execução deste plano. Isso será mais uma motivação financeira.

A TRIBUNA- O governo parece que não leva a sério a questão da droga. Este é um dos grandes problemas na área de segurança?
CARIOCA- Leva, existe um plano que será executado para combater as drogas. A situação é grave. O Acre deixou de ser corredor para ser consumidor. Estamos perto do Peru e da Bolívia, os maiores produtores de cocaína no mundo. No Acre, o pobre consome cocaína. Você passa no bairro Mauri Sérgio e vê no chão embalagens de drogas que foram consumidas.

A TRIBUNA- Existe a pauta dos delegados de polícia que não foi negociada, como será conduzida essa negociação?
CARIOCA- Os delegados querem isonomia com os defensores públicos. O Binho topa discutir. Isso colocaria o inicial de um delegado em R$ 8 mi e o teto final em R$ 16 mi. Só que nesta discussão vai ser embutida a gestão. Não pode continuar um delegado ser procurado na delegacia e não ser achado. Para melhorar a gestão, o governador Binho irá contratar 33 novos delegados de polícia.


A TRIBUNA- A segurança é o calcanhar de Aquiles do governo? O Binho pensa em nomear o delegado Walter Prado no lugar da secretária Márcia Regina?.
CARIOCA- É o grande problema do governo Binho, que está jogando pesado para resolver. Não vamos deixar essa herança para o Tião Viana, que tenho certeza de que será o próximo governador. A Márcia Regina está no cargo para fazer mais a parte de contatos com a Justiça e com o Ministério Público. A parte operacional ficará a cargo do delegado Emilson, que trabalhará com a Márcia para implantar esse modelo novo, que não pode repetir o erro de ficar sempre correndo atrás de bandido. Isso exige mentes mais arejadas que esqueçam o modelo antigo, que não está dando certo. O Walter Prado é ouvido porque tem experiência de anos na função, é um parceiro, mas o Binho não cogita tirar a Márcia, que acho que faz um bom trabalho.

A TRIBUNA- Vamos falar de política. A oposição assusta em 2010 para o governo?
CARIOCA- Em eleições, não se pode ter arrogância, mas não assusta de modo algum. A oposição sabe que perderá em 2010 ou não teria lançado seu time reserva com o Tião Bocalon e o Rodrigo Pinto para disputar com o Tião, e deixado no banco as suas mais fortes lideranças, o Flaviano Melo e o Márcio Bittar. Time que pensa em ganhar não coloca reservas.

A TRIBUNA- A FPA não é um modelo político que já se esgotou?
CARIOCA- A FPA tem um grande desafio político, que é atrair essa parcela jovem do eleitorado, que não acompanhou o primeiro governo da FPA e as mudanças conquistadas. Temos sempre que buscar mudanças, não podemos ter medo de novos desafios.

A TRIBUNA- Como você vê a contestação da oposição em relação ao modelo da florestania?
CARIOCA- O Jorge Viana foi muito feliz em adotar esse modelo. O problema da oposição é que defende modelos que agridem o meio-ambiente, como os de Rondônia e de Mato Grosso do Sul, mas tem vergonha de assumir isso publicamente. Hoje, não tem mais lugar no mundo para quem não seguir o modelo de preservação ambiental. A oposição não tem um programa de governo próprio, como alternativa à florestania.

A TRIBUNA- A oposição acha que o Jorge Viana será senador, mas também acredita que será fácil tomar o mandato da senadora Marina (PT) por ter se afastado da política, você concorda?
CARIOCA- Discordo. O Jorge Viana é hoje, sem dúvida, a maior liderança política do Acre. A pergunta é: a Marina enfrentará quem na oposição para disputar o Senado e assim se contrapor a seu currículo? O Normando Sales, Fernando Lage, Sérgio Barros? Do nosso lado, irão apoiá-la o Jorge, o Tião, o Angelim, o Binho, prefeitos do interior, toda estrutura da FPA. Até 2002, a disputa foi dura contra a oposição, mas, daí em diante, foi muito mais fácil. A eleição da Marina será plebiscitária. A FPA fará os dois senadores, porque todo esse pessoal estará ao seu lado.

A TRIBUNA- Você e o governador Binho têm a fama de não gostarem dos políticos, isso é verdade?
CARIOCA- Se é um político que só pede favores pessoais, desse tipo de político, nós não gostamos. O vereador Cabide (PTC) chegou outro dia e me entregou 94 currículos para empregar esse pessoal na Prefeitura. Fazer o quê? Claro que não será atendido. O Binho é atinente aos grandes problemas do governo. Eu sei que muitas vezes o político não tem como escapar dos pedidos dos eleitores, isso ocorre em todo Brasil, não é só no Acre, mas não podemos entrar no modelo da política individual.

A TRIBUNA- O PT investe em Cruzeiro do Sul, mas, na hora da votação, não consegue eleger ninguém para cargo majoritário, como explicar isso?
CARIOCA- Em Cruzeiro do Sul, não chegou o Estado de Direito. A população sempre viveu do clientelismo dos políticos, de favores individuais. Tentamos mudar isso e criaram a imagem de que o PT era perseguidor. Para você ter uma ideia, em 99 o comércio de Cruzeiro do Sul pagava menos impostos que o supermercado Araújo. O governo do PT tentou corrigir a distorção, e o PT virou perseguidor. Isso refletiu negativamente nas eleições. O dono do comércio, de quem passou a se cobrar impostos, falava ao funcionário que o PT estava demitindo-o, porque o PT o perseguia. Até hoje, os táxis em Cruzeiro do Sul não possuem taxímetro. O prefeito que ousar mudar isso não será reeleito, mas é preciso ousar. Eu pensei que com a ida da Ufac as mudanças aconteceriam, só que foram mais lentas que eu imaginava. Ainda, no Juruá, ninguém paga água consumida em Rodrigues Alves, nem o pobre e nem que tem renda alta. Não existem regras. O MP tem que atuar. E, quando alguém tenta uma mudança benéfica, vira perseguidor. Essa imagem do PT ainda vai demorar a ser mudada naquela região,

A TRIBUNA- Tião Viana é favorito ao governo? O Binho é o nome para prefeito em 2012?
CARIOCA- O senador Tião Viana (PT) é o favorito. Aprendeu muito com sua passagem pelo Senado. A questão do celular foi um erro que reconheceu, mas pagou, não causou nenhum prejuízo ao Senado. E olhe que reviraram toda sua vida e não acharam nada. Veja o que está acontecendo com o Sarney. O Tião tem liderança. Não tenho dúvida de que será o próximo governador do Acre. Sobre o Binho, desde que assumiu o governo, disse que não seria candidato a nada depois do mandato. Mas é um nome a ser discutido em 2010 para a Prefeitura. O Flaviano Melo se elegeu a prefeito de Rio Branco em cima do que fez no governo.

[publicada originalmente em atribuna]

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