sexta-feira, julho 24, 2009

Entrevista - JORGE VIANA


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Charlene Carvalho - charlene@pagina20.com.br
22-Jul-2009
“Ainda é cedo para falar em candidaturas majoritárias. Precisamos evitar salto alto na FPA”

jorge_viana_11_rs_.jpgConsiderado um dos guardiões da Frente Popular do Acre e um dos principais puxadores de votos da coligação desde sua criação no início da década de 1990, o ex-governador Jorge Viana não gosta nem um pouco de falar sobre antecipação de candidaturas majoritárias em 2010, mas defende a necessidade de trabalhar muito e cuidar bem do 11º ano da administração estadual para não correr os riscos de que “os guabirus tomem conta do que lutamos tanto para tornar real, que é o projeto de desenvolvimento do Acre”.

Também não esconde seu desejo de voltar a disputar uma eleição no que chama de “copa do mundo da política”, as eleições gerais do próximo ano, embora isso dependa de um convite da FPA. “Não vou negar que ficaria frustrado em ficar de fora da disputa. Posso ficar no banco de reservas, claro, mas quero mesmo é jogar como titular.”

Ontem à tarde, Jorge Viana conversou com jornalistas sobre os últimos acontecimentos da política local, as eventuais candidaturas na FPA, o desejo de alguns partidos de manter candidaturas majoritárias sem antes discutir a questão internamente e dos riscos de antecipar o debate quando a prioridade no momento é a governabilidade e os fortes investimentos nos 22 municípios que vêm sendo feitos pelo governador Binho Marques em parceria com os prefeitos. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O senhor é uma das principais lideranças da FPA. Nos últimos dias são grandes as especulações sobre candidaturas, principalmente majoritárias. Qual sua avaliação dessas discussões?
Tenho comigo que minha obrigação, minha e de outros colegas da Frente Popular, é preservar essas discussões para o âmbito interno do PT, dos demais partidos e da Frente Popular. Tenho isso como missão e uma missão que me dá prazer. E a minha opinião é de que ainda é cedo para falar sobre candidaturas, sobretudo candidaturas majoritárias, até porque quem define candidatura majoritária, historicamente na Frente Popular, não são pessoas. As candidaturas não surgem de vontades pessoais, mas de uma ampla discussão, e a palavra final cabe ao conjunto da Frente Popular.

O governador Binho Marques já deixou claro que sua chapa majoritária dos sonhos seria composta pelo senador Tião Viana candidato ao governo e o senhor e a senadora Marina Silva como candidatos ao Senado.
Sim, mas veja bem, essa é a opinião pessoal do governador, e quando ele disse isso, fez questão de tratar a questão do ponto de vista da sua vontade pessoal. Nunca tratou isso como imposição ou decisão da Frente. Pelo contrário. E nessa discussão de candidatura majoritária, o Binho é o comandante, o grande líder que vai conduzir o processo. Ele já disse que quer concluir seu mandato até o dia 31 de dezembro de 2010 e nossa prioridade no momento deve ser a governabilidade.

Sem antecipação de definição de candidaturas?
Exatamente. Estamos no 11º ano da gestão da Frente Popular. Este é o ano do maior volume de recursos, de grandes obras, grandes investimentos na capital e no interior. Precisamos priorizar o trabalho. A política fica para depois. Há tempo certo para discutirmos isso e o momento ideal não é agora.

Mas quem tem antecipado essas discussões são, principalmente, dirigentes da FPA...
Sim, eu sei, mas é preciso ter claro que a Frente Popular não define candidaturas de acordo com vontades e projetos pessoais de quem quer que seja. O único fato real que temos hoje é de que, na Frente Popular, não temos candidatos a nada, muito menos a suplente, senador, governador ou vice-governador. Qualquer discussão sobre isso, nesse momento, na minha opinião, é inoportuna. É preciso discutir no local apropriado do debate que é a FPA, mas na hora certa, sem atropelos. Quando feita fora de hora, essa discussão só atrapalha.

E como ficam essas discussões que estão sendo feitas nos partidos?
É natural que muitos especulem sobre o assunto, mas posso afirmar que esse assunto não tem sido tratado na Frente. Os partidos podem fazer suas discussões internas, mas quem fecha chapa majoritária é a Frente Popular. Quem tem de se preocupar, especular agora é a oposição, que sempre trabalha a unidade eleitoral nas vésperas das disputas. E, como não estão no governo, têm todo o tempo do mundo para as futricas, para a politicagem, para antecipar o debate eleitoral. Estão no seu papel, e eu respeito. Nós, não. Nós temos uma unidade política e essa unidade política sempre prevalecerá e precisamos aproveitar o ano de 2009 para trabalhar cada vez mais.

O fato de ter muitos nomes atrapalha?
Eu acho que não. O Carioca disse dia desses que a Frente Popular tem muitos nomes disponíveis, e é verdade, mas cada um sabe, ou pelo menos deveria saber, qual o seu papel. E na FPA todos nós sempre nos subordinamos à vontade da maioria. Não há espaço para imposições de candidaturas.

Mas há muitas especulações, muita gente querendo ser candidato majoritário na FPA.
É, mas quem impõe candidatura nunca se dá bem. Nós já tivemos muitos exemplos disso. A FPA tem uma lógica diferente da política tradicional. Por conta dessa nova lógica eu fui governador oito anos e estou sem mandato, porque em 2006 a prioridade era eleger o Binho, e naquele momento deixar o governo para ser candidato era um risco muito alto. Essa nova lógica deu certo, tem funcionado. Hoje, viajo pelos municípios e sou muito bem acolhido. A Frente tem muitos quadros bons para as eleições do ano que vem e para as próximas eleições, mas não podemos antecipar o debate.

E o senhor? É candidato a quê em 2010?
Eu penso que não tenho direito de me negar a um chamamento da Frente Popular. Hoje estou muito bem profissional e materialmente, mas tudo que tenho devo à Frente Popular, não posso negar um convite. Mas fico tranquilo se não for chamado, estou bem onde estou, mas não posso ser egoísta.

O senhor não quer ser candidato a nada em 2010? Acredita mesmo nisso?
Veja bem, a cada dez anos a gente costuma ter uma eleição grande. Essa eleição de 2010 vai ser grande. Vai ser uma copa do mundo da política, e eu, claro, ficaria feliz em participar. Eu gosto de política, eu quero ajudar no processo, mas sem impor nada. Eu diria o seguinte: vou ficar feliz se for candidato. Comparado ao futebol, à copa do mundo, ficaria frustrado de ficar no banco de reservas. Quero ser titular. E se puder ser titular, claro que eu aceito, mas estou pronto para o banco de reservas.

Há muitas especulações sobre a reeleição da senadora Marina Silva. Há quem diga que ela terá dificuldades de se reeleger...
As pessoas irão, de novo, se surpreender. Esse é um grande equívoco dos nossos adversários achar que a Marina não é uma boa candidata. Acho que ela vai ter mais facilidades que muitos de nós. A Marina é uma guerreira e seu trabalho transcende o Acre e o Brasil. Sua presença no Senado é importante para o Acre, para todos nós.

E a eventual candidatura do senador ao governo?
Essa é uma discussão, como já disse, que deve ficar para depois, mas é claro que o nome do Tião ganha força naturalmente. A possibilidade de fazermos o sucesso do Binho é grande pelo trabalho que vem sendo feito, mas isso depende de muito pé no chão.Não podemos ter salto alto na Frente Popular.

Há informações extraoficiais de dirigentes de partidos que ameaçam deixar a FPA se não forem atendidos em suas ambições de crescimento. O que há de verdade nisso?
A possibilidade sempre existe, mas na Frente Popular quem não subordina a ambição ao projeto maior tende naturalmente a deixar a coligação. Isso já aconteceu antes. Penso que, em casos assim, a saída é uma questão de tempo. Uma coisa é certa: quem quiser impor nomes ou candidaturas sem debate, sem amplo diálogo, vai se decepcionar. A Frente Popular não aceita chantagem, ameaça. E, historicamente, quem tentou impor candidaturas com ameaças ou chantagem não se deu bem - ficou no meio do caminho.

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