terça-feira, janeiro 12, 2010

Isolamento é o caminho para a derrota, diz Renato Rabelo


Marcando o início de um ano crucial para o futuro do país, a Escola Nacional de Formação do PCdoB deu início, neste sábado (9) ao Curso de Nível 3, em Atibaia (SP). A aula inaugural coube ao presidente do partido, Renato Rabelo. Ele ressaltou que no embate eleitoral que se aproxima “a elite conservadora tudo fará para barrar o processo de mudanças iniciado pelo governo Lula e a esquerda”, o que demanda a união de forças. “Na política, o isolamento é o caminho para a derrota”, afirmou.

Rabelo: "Vivemos um momento insólito"
Ao longo de 13 dias, cerca de 120 pessoas de mais de 20 estados acompanharão as aulas. Tais militantes, considerados quadros partidários, terão neste ano o desafio de agregar as bases comunistas para que o PCdoB se fortaleça para as eleições e o campo progressista vença no plano nacional.

Além do objetivo de eleger ao menos 20 deputados federais, o partido pretende garantir ao menos dois senadores e trabalha com a possibilidade de lançar Flávio Dino ao governo do estado do Maranhão. Os comunistas querem, ainda, lutar para garantir a continuidade do ciclo progressista aberto por Lula, elegendo sua possível sucessora.

Aplicação do Programa

Lembrando do principal documento aprovado no 12º Congresso do PCdoB, Renato Rabelo enfatizou que o Programa Socialista “não deve ser engavetado”, mas “divulgado e seguido” uma vez que se trata de documento de orientação de caráter histórico “mas também situado no contexto político atual”.

Rabelo colocou que o foco do Programa é a transição ao socialismo, terceiro salto civilizacional que pode ser dado pela nação brasileira. Tal transformação exige a aplicação de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “Esta é uma necessidade candente e o projeto que defendemos servirá de base para nossa contribuição ao governo que dará continuidade ao de Lula”, salientou o dirigente. E alertou: “se os tucanos voltarem ao poder, este projeto nacional de desenvolvimento ficará truncado à espera de um novo momento, daí a necessidade de garantirmos a vitória de nosso campo”.

Na opinião do presidente, o processo de mudanças pelo qual o país vem passando deve ser continuado. “Para que o Brasil seja mais influente, desenvolvido e justo, são necessários ao menos 20 anos de aplicação do programa progressista. A China, com um projeto pré-determinado, precisou de 30 anos! Ou seja, devemos compreender que este é um processo cumulativo e que não estamos num período revolucionário”.

Momento insólito

Renato Rabelo colocou ainda que, embora haja por muitos setores da direita e da esquerda uma avaliação equivocada de que o país vive uma continuidade da era FHC, “a verdade é que vivemos um momento insólito”, em que “forças progressistas, populares e de esquerda ocupam o poder central do país como nunca acontecera antes, inaugurando um cenário em que se esboça a construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento”.

Para ele, alguns aspectos do mandato de Lula demonstram a opção por este caminho: a retomada da ação e o fortalecimento do Estado nacional, o desenvolvimento autônomo do país, distribuição de renda, o estímulo ao mercado interno, a diversificação das exportações, a integração solidária com os países da América Latina, o diálogo Sul-Sul e a maior projeção do Brasil no cenário internacional, entre outros pontos.

“É preciso lembrar ainda que apesar da política econômica ainda híbrida e restritiva, o país conseguiu sair rapidamente da crise global e podemos crescer 6% neste ano”, colocou. Além disso, enfatizou que os comunistas “não podem cair no discurso da mídia”, que procura igualar o mandato atual com o de FHC e desqualificar as vitórias alcançadas. “Sim, queremos mais. Queremos ir além, mas devemos ter em mente que as mudanças estão sendo alcançadas conforme a realidade de nosso país”.

Encruzilhada imediata

Em seguida, Renato Rabelo procurou levantar as diferenças entre os dois principais campos que estarão disputando a Presidência. “(José) Serra tem um projeto comprometido com as mesmas forças que sustentaram o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ou alguém realmente acha que é diferente?”, questionou.

“Seu projeto é restritivo às transformações sociais, é anti-estatal, antidemocrático e de subserviência aos norte-americanos e europeus. Outro divisor de águas é a criminalização dos movimentos sociais. Não haverá diálogo; haverá polícia”, disse Rabelo.

O dirigente lembrou ainda que a oposição – PSDB, DEM, PPS, apoiados pela grande mídia e setores conservadores da sociedade – tenta focar a disputa entre Serra e Dilma, procurando assim neutralizar a força de Lula. “Do nosso lado, precisamos reafirmar o caráter plebiscitário dessa disputa, demonstrando a diferença entre o projeto tucano e o nosso projeto”.

Para garantir a continuidade do atual ciclo, Renato Rabelo ressaltou a necessidade de reunir forças. “Ganhar a maioria do PMDB e o apoio de partidos intermediários é o grande desafio. Por outro lado, a oposição tem o desafio de unir os próprios tucanos e conseguir uma candidatura que não deixe seqüelas”.

Do ponto de vista do PCdoB, ressaltou: “o que está em jogo é o destino do Brasil e, para nós, também o fortalecimento de nosso partido. Precisamos garantir a reunião de forças que sustentem a candidatura de nosso campo com um núcleo de esquerda”.

Aprofundamento das mudanças

O dirigente comunista lembrou ainda no campo econômico “ainda temos muitos gargalos; nossa taxa de investimento ainda está em 19% do PIB, quando precisaríamos ir a mais ou menos 28%”, ou seja, é preciso garantir que o próximo governo se comprometa a ir além.

Por isso, defendeu que “precisamos de uma política econômica mais expansiva, com câmbio administrado e competitivo; juros mais baixos e equilíbrio fiscal levando em conta a demanda por empregos e o desenvolvimento sustentado. Nosso pólo público bancário pode ser o carro-chefe deste processo”.

No caso dos avanços sociais, defendeu a necessidade “de contarmos com uma base popular unida para lutar conosco pela redução da jornada de trabalho e vencer os entraves da previdência, como o fator previdenciário e garantir melhores condições de saúde, educação e moradia”.

Renato Rabelo também colocou a necessidade de se ampliar os investimentos em infra-estrutura e em pesquisa e inovação científica “essenciais para a elevação do valor agregado de nossos produtos industriais e agrícolas”.

Por último, colocou também a importância da autonomia energética – enfatizando que o país conta com o trunfo do pré-sal, mas também com investimentos em energia renovável, além de ter hoje 80% de sua energia limpa – e a necessidade de continuar o caminho da inserção internacional independente e protagonista, aprofundando a integração solidária e as parcerias estratégicas.

De Atibaia,
Priscila Lobregatte

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